5.1 Potencial
hídrico do solo (
ws)
Os conceitos termodinâmicos empregados no estudo das relações
hídricas ao nível celular, também se aplicam
no sistema solo-planta. Como o movimento de água no solo
é muito lento, a contribuição da energia
cinética é insignificante. Por outro lado, como
a água se move seguindo gradientes de energia criados
pela ação de certas forças inerentes ao
solo, a energia potencial passa a ser muito importante e por
extensão os conceitos de potencial hídrico e de
seus componentes.
A energia da água no solo pode ser influenciada por um
conjunto de fatores, a saber:
a. Textura: relaciona-se com a água disponível
para formar a camada de adsorção e com a superfície
especifica das partículas que formam o solo. Assim sendo
quanto menor o tamanho das partículas do solo, maior
área de contato da água com as partículas,
maior adsorção da água, menor energia da
água e menor potencial hídrico.
b. Estrutura:
Define o arranjamento espacial das partículas do solo,
definindo o equilíbrio entre os macroporos e microporos
que compõem o solo (Figura 6).

Figura
6. Representação esquemática de uma porção
de solo com seus agregados, contendo microporos circundados
por espaços vazios (macroporos). Quando um solo apresenta
percentual de microporos superior ao de macroporos, ocorre uma
maior retenção da água nos microporos como
conseqüência a energia livre e seu potencial hídrico
diminuem. Esta condição impõe dificuldades
ao vegetal em obter água.
c.Tipos
de colóides: podendo ser de origem mineral e orgânica,
influenciando tanto a estrutura quanto a natureza e quantidades
de íons. Por exemplo, quando os colóides são
de origem orgânica como as substâncias húmicas,
as mesmas apresentam cargas residuais (tanto negativas quanto
positivas) que podem ser fatores tanto de agregação
entre as partículas do solo quanto de adsorção
íons que serão absorvidos pela raiz vegetal.
d. Quantidade de íons: à medida que a quantidade
de íons eleva-se o potencial hídrico do solo diminui
impondo restrições absorção de água
pela raiz.
5.1.2 Componentes do potencial hídrico do solo (
ws)
ws
=
g
+
m
+ 
+
p
O Componente gravitacional (
g)
representa a ação da gravidade sobre a energia
livre da água para manter a água do solo suspensa
em um determinado nível para contrabalançar a
força da gravidade.
Componente mátrico (
m)
O potencial mátrico é devido às características
estruturais e texturas da matriz do solo, ou seja, os fenômenos
de adsorção e capilaridade do solo versus água.
A formação de partículas de hidratação
e a adsorção em microcapilares reduzem o potencial
hídrico da água, gerando tensão negativa
sendo a mesma determinada por aparelhos denominados tensiômetros.
O potencial osmótico (
)
da água no solo, resulta da ação dos solutos
sobre as moléculas de água. Nos solos considerados
adequados para grande parte das culturas glicófilas,
o 
oscila em torno de -0,03 MPa, tornando-se mais negativo à
medida que o solo torná-se salino.
O potencial pressão (
p),
em um ponto específico do solo, é diretamente
proporcional à pressão hidrostática exercida
pela coluna de água no solo e que exceda a pressão
atmosférica reinante. Isto se verifica porque tomamos
como referência o estado da água definido pela
pressão atmosférica existente. Por conseguinte,
o valor do
p
será igual a zero, se a pressão à qual
a água está submetida for igual à atmosférica.
Nos solos, o
p
será positivo e concorrerá para aumentar o potencial
hídrico se a pressão exercida da coluna de água
em um determinado ponto for maior do que a pressão atmosférica.
Este componente do potencial hídrico somente será
importante no estudo do "status" energético
da água em solos saturados e a grande profundidade. Consideramos,
como exemplo, o caso de uma cultura irrigada por inundação,
apresentando uma lâmina de água de 15cm. Neste
solo, após a saturação, um ponto a 65cm
de profundidade receberia uma pressão positiva de uma
coluna de água com 80cm de altura de 0,0078 MPa que seria
por conseguinte o valor do Yp, isto porque:
p
de 1033 cm de H2O = 1 atm = 1,013 bar = 0,1013 MPa, por conseguinte:
p
de 80 cm de H2O = 0,077 atm = 0,078 bar = 0,0078 MPa.
Nos solos não saturados, devido às fortes interações
com os colóides, a água fica sujeita a pressões
subatmosféricas que são chamadas de "tensões"
e englobadas, portanto no componente mátrico do potencial
hídrico. No entanto, em um solo abundantemente irrigado
pode estar saturado em água. A parte da água que
drena pelos espaços porosos é denominada de água
gravitacional que não é retida pelo solo contra
a força de gravidade. Como geralmente a concentração
iônica da solução do solo é baixa
e o yws é relativamente alto, em torno de -0,03 MPa.
Após a drenagem natural do solo por várias horas,
a água remanescente nos poros capilares do solo retida
contra a gravidade, é denominada de água capilar
e corresponde à capacidade de campo.
À medida que a água é removida do solo
por drenagem, evaporação e absorção
pelas raízes, o filme de água diminui e o potencial
hídrico do solo decresce. Quando o yws igualá-se
ao potencial hídrico da raiz, a absorção
cessa, e como a transpiração continua, a planta
murcha.
Mesmo que a transpiração seja suprimida por se
submeter a uma atmosfera saturada (100% de Umidade Relativa),
ela não supera a murcha; denomina-se à água
do solo, nestas condições, como percentagem de
murcha permanente. Os cientistas de solo consideram tradicionalmente
que o solo com um yws de -1,5 MPa o que representaria para muitas
plantas a percentagem de murcha permanente, embora muitas plantas,
especialmente aquelas que crescem em solos desérticos
e em solos salinos, possam remover água em solos com
um yws de -1,5 MPa.
A percentagem de murcha permanente é determinada na realidade
pela natureza do solo (força de retenção
da água por adsorção); e pela incapacidade
da planta em recuperar a turgescência abaixo do yws crítico.
Neste instante, a planta apresenta um "status" hídrico
que define o ponto de murcha permanente (PMP), ou seja, momento
no qual a planta é incapaz de absorver água do
solo.
A quantidade de água retida no solo entre a capacidade
de campo e a percentagem de murcha permanente depende da textura
e estrutura do solo e tipo de matéria orgânica.
Em baixos potenciais hídricos do solo, a água
se move lentamente, limitando sua chegada à raiz, o que
contribui para defasagem entre transpiração e
absorção; à medida que o solo perde água,
menor o seu yws, mais fortemente ela é retida, e mais
difícil torna-se sua absorção pela planta.
A Figura 7 ilustra a relação entre o conteúdo
de água do solo e o
ws,
observe que a capacidade de campo define o limite superior de
disponibilidade de água para o crescimento das plantas,
enquanto o ponto de murcha permanente pode ser caracterizado
como o conteúdo de água do solo, no qual as plantas
ficam permanentemente murchas, supondo que as folhas demonstrem
sinais de murcha.

Figura 7. Curva de retenção de água no
solo ilustrando graficamente que o potencial hídrico
é função da quantidade de água presente
no solo. O conteúdo de água entre os pontos A
e B representa a água disponível para as plantas.
A forma da curva difere para cada tipo de solo dependendo das
propriedades específicas que afetam as relações
hídricas.
Devido à
absorção, cria-se um gradiente de potencial hídrico
entre regiões próximas às raízes
e regiões mais distantes. O movimento da água
no solo para as raízes é dado pela Equação
de Darcy que será descrita na próxima página